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Dec 18 2014

O Som de “Relatos Selvagens” – Parte I

Primeira parte da conversa sobre o som de “Relatos Selvagens” (Damian Szifrón, 2014) que ocorreu na CAPER 2014 (Câmara Argentina de Provedores e Fabricantes de Equipamentos de Radiodifusão).

O filme”Relatos Selvagens” é formado por 6 histórias diferentes que têm como mote a violência. O tema desta primeira parte foi a captura de som direto. Quem fala sobre este assunto é Javier Farina, diretor de som direto do filme.

Javier comenta que o fato do filme ser formado por 6 histórias diferentes trouxe um agravante no momento da captação de som direto. Num filme usual, onde há apenas 1 história central com os mesmos personagens do início ao fim, o técnico em som direto acaba conhecendo bem cada ator e isso ajuda no momento de planejar a captação de som. No caso de Relatos Selvagens, a equipe tinha cerca de 2 semanas para filmar cada história, a dificuldade era tentar conhecer uma quantidade enorme de personagens em pouco tempo. Isso fez com que o trabalho durante as filmagens fosse bem dinâmico. Era como se estivessem filmando 6 filmes num espaço de tempo de um longa.

A primeira história, “Pasternak”, se passa num avião e foi filmada num avião de verdade no aeroporto de Ezeiza. O mais difícil foi ter que ser adaptar ao espaço limitado de dentro de um avião. E coordenar, junto com a produção, os momentos silenciosos para gravar. Porque estavam numa pista onde haviam aviões ao lado com motores ligados.

Haviam muitos personagens que interagiam na ação. Usaram 2 boom (com o suporte – shockmount – francês CINELA, que deixa o microfone suspenso e permite que a vara seja movimentada com facilidade), um para o personagem em quadro e outro para o personagem em off para dar opções ao diretor.

Durante as filmagens deste curta, o diretor gravava as ações inteiras, sem cortes, com apenas uma câmera (o que facilitou o trabalho de som). E acompanhar estas ações num espaço reduzido foi muito difícil. O som era gravado em canais separados e além destes, havia um canal estéreo com todos os microfones mixados para ser usado pelo editor do filme e para poder monitorar de maneira mais fácil.

Os fones usados são uma versão do Sony 7506, que tem uma proteção parecida com o isolamento usado em fones de helicópteros e avião, que podem reduzir em até 25dB os ruídos externos. Assim era possível trabalhar com um volume de monitoração baixo e evitar a fadiga auditiva durante as filmagens. Além de estar mais seguro do que estava entrando no gravador, pois a interferência do exterior era menor.

O gravador usado foi um Sound Devices 788 de 8 canais, mais 2 canais de mix e 2 canais auxiliares. Abaixo um receptor Venue da Eletrosonic, que recebe até 6 canais, com um controlador sem fio que é para poder ver todos os canais ao mesmo tempo e ter o controle dos metadados que entram no gravador. Os equipamentos estão de uma maneira que é possível controlar tudo sem fios e de maneira mais simples toda a gravação de todos os dados.

Na segunda história, “Las Ratas”, está chovendo o tempo todo. Foi preciso uma mobilização da produção com a equipe de efeitos especiais, pois havia, nos quatro cantos da locação, simuladores de chuva. Eles gastavam 1200 litros de água por minuto. Foi feita uma combinação para que os simuladores de chuva não incomodassem a captação do som direto. Para que a água não fizesse ruído, usaram uma espécie de cobertor plástico para diminuir o barulho da água caindo. Todos os dias a produção e os efeitos guardavam 1 minuto de chuva para que fosse possível gravar ambientes no final de cada jornada. Isso foi feitos durante todos os dias de gravação e em vários pontos da locação.

Outra dificuldade a ser enfrentada foi o reflexo dos microfonistas nos vidros da locação, por isso parte das janelas aparecem cobertas, para evitar os reflexos.

A terceira história, “El más fuerte”, foi a mais difícil, do ponto de vista físico. A locação era em Salta, no meio do nada, onde não havia nenhum tipo de comunicação e onde demoravam cerca de 2 horas para filmar cada tomada. E no momento das filmagens, estavam construindo uma nova ponte perto da locação. O ruído era enorme. E o pessoal de produção tinha que pedir para parar a obra sempre que começavam a filmar. Enquanto não estavam filmando, a produção avisava que as obras da ponte podiam seguir.

O curta é muito dinâmico e foi filmado com várias câmeras ao mesmo tempo. O desafio foi se esconder. Foi usado um sistema com fios conectados a um sistema sem fio. Os sinais chegavam até Javier e o microfonista (que estavam em cima de um morro, distantes das ações). Havia um microfone com a câmera, para captar esse ponto de vista e mais um microfone com cada personagem dentro de seus respectivos carros, pois havia diálogos. E mais 1 microfone escondido dentro de cada carro, para captar o ponto de vista das câmeras internas.

As claquetes para as diferentes câmeras eram feitas separadamente. E caso nenhum microfone sem fio pudesse captar o som da claquete no momento, também estavam gravando o timecode para poderem sincronizar tudo no final. O timecode da câmera ALEXA era levado ao Sound Devices no início do dia e assim, som e imagem tinham o mesmo timecode durante toda a jornada.

Outro desafio, além de pensar na logística de toda microfonação, foi pensar numa maneira de gravar o som direto que pudesse servir na pós-produção. Que tivesse continuidade.

A quarta história, “La Propuesta”, foi a mais tranquila de gravar. Foi toda filmada numa casa, não havia interferências de ruídos externos, mas havia muito diálogo e muitos personagens. O trabalho do som direto foi de tentar captar todas as nuances das vozes dos dois personagens que mais falam durante este curta. Ter tudo coberto (o que aparecia em quadro e o que estava em off) para dar opções de trabalho a pós-produção de som.

A quinta história, “Bombita”, foi a “história principal”, foi a primeira que filmamos e que demorou mais tempo para ser filmada. Haviam muitas locações. E o desafio foi se adaptar aos diferentes cenários, que mudava todos os dias. Os ensaios eram necessários porque Ricardo Darín poderia fazer o take numa única tomada, por isso era preciso que a equipe de som direto estivesse afiada.

Houveram locações onde a produção não pode interditar ruas. Foram feitas muitas coberturas de som (wild track), com os atores e de efeitos como carros que passam, etc. Fazer isso na locação é muito melhor, porque o som fica muito mais natural do que uma dublagem que é feita meses depois dentro de um estúdio.

A sexta história, “Hasta que la Muerte nos Separe”, foi o maior desafio para o som direto. Apesar de ser uma só locação, haviam muitos extras e muitas situações diferentes e era bastante dinâmico. Ouve uma coordenação para poder gravar com o playback da música e todos os extras. Para que fizessem silêncio quando houvesse diálogos.

Haviam dois microfonistas. O primeiro era responsável por dirigir ao segundo da posição e movimentos dos microfones. Os microfonistas são muito importantes num set. São os que comunicam para o diretor de som direto o que acontece entre a direção de atores e a câmera.

A parte mais difícil de gravar foi a cena que acontece numa cobertura de um edifício de 25 andares, no centro da cidade. Havia muito vento e haviam muitas máquinas que não podiam ser desligadas. Foi feita uma caixa de madeira revestida com material acústico para tapar os ar-condicionados da locação e reduzir o barulho deles. No primeiro dia de gravação, o vento era normal. Mas no segundo dia, ventava muito e não foi possível fazer uma boa captação de som direto. Infelizmente, a solução seria deixar que a pós-produção pudesse resolver esse problema.

Parte II

Parte III

Parte IV

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