Sobre a Experiência Acústica no FILE SP 2011
FILE – Festival Internacional de Linguagem Eletrônica.
Ao caminhar pelo corredor do Prédio da FIESP, a massa sonora e ruidosa do trânsito da Av. Paulista se atenua e, enquanto o visitante se aproxima do saguão onde está sendo exibido o Festival de Linguagem Eletrônica 2011, um outro ambiente, também ruidoso e confuso, toca-lhe os ouvidos. Não que eu espere encontrar ali o silêncio de um museu “tradicional”, ou seja, o sussurros e “tossidinhas” de espaços dedicados exclusivamente à arte visual; mas o que se escuta é muito mais próximo de um Fliperama de Shopping Center que de um espaço de exibição de arte, ou o que quer que sejam os trabalhos expostos ali. Mesmo que seja arte eletrônica, ali deveria ser um espaço de reflexão, mas é possível refletir num espaço onde reina o caos acústico? Onde não é possível identificar onde acaba o som de uma obra e começa o som de outra?
Estão sendo exibidas ali dezenas de trabalhos, num espaço que claramente não comporta tal quantidade de obras. Na maioria delas, o som faz parte da obra e define (ou deveria) a relação com o espectador. Em algumas, o som é um fenômeno não-mediado, ou seja, tem origem no objeto. No pin ball feito de sucata proposto logo na entrada, os ruídos são produto da interação obra/espectador. É assim também na instalação interativa (ADA – ANALOGE INTERACTIVE KINETIC SCULPTURE) onde um grande globo transparente com pontas de carvão raspa as paredes e teto da da sala, e isso produz um certo efeito sonoro. Ou ainda numa obra onde dois alto falantes passeiam num balcão de madeira movidos pelo próprio som (SPIDERBYTES).
Mas no restante das obras, o som sai de alto falantes, e o som, não tendo uma origem causal, nem pontos de sincronismo claro, são de difícil percepção. As vezes saem do teto ou de caixas em baixo da tela, mas só um espectador muito atento e interessado irá conseguir fruir a obra. Embora pareça ser uma atitude pouco frequente ali. São espectadores ou usuários?
Mas parece não haver, por parte da curadoria e cenografia, qualquer preocupação com o caráter sonoro das obras e da exposição. Pela maneira que as “obras” estão dispostas, sons se misturam e é muito difícil apreciar, fruir, interagir com a obra enquanto experiência acustica. Principalemte quando os cinco ventiladores de uma obra sensorial instalada no meio do salão (é basicamente um cilindro onde flocos de isopor envolvem o visitante simulando um tufão) começam a funcionar.
O FILE vai até dia 21 de agosto de 2011. Entrada franca. Se for, fuja dos finais de semana e leve seu protetor auricular.