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Jan 30 2013

Homenagem a Stefan Kudelski: inventor do Nagra

O cinema sonoro trilhou um longo caminho até que soluções técnicas e mercadológicas fossem encontradas para o seu total estabelecimento. A primeira solução encontrada foi a gravação em discos (de 1927 a 1932) que logo foi substituída pela gravação ótica, que depois foi substituída pela gravação magnética e depois pela digital.  

A gravação magnética do som foi descoberta pelos alemães durante a II Guerra Mundial. Somente com a invasão da Alemanha, em 1945, é que os aliados tiveram acesso ao gravador Magnetofone. A partir daí, os americanos desenvolveram esta tecnologia para ser usada nos estúdios de cinema. Mesmo substituindo a tecnologia da gravação ótica do som pela gravação magnética nas filmagens, usando gravadores como o Rangertone ou o Ampex, estes gravadores ainda eram pesados (quase 30 Kg) e precisavam ser alimentados pela rede elétrica ou por geradores para manterem o sincronismo com a câmera, não eram portáteis.

Foi nesse cenário que surgiu um gravador magnético de som portátil que fez história: o Nagra, e que se tornou um sinônimo de gravador para cinema durante mais de 20 anos. Em 1948, o pequeno transistor substitui as válvulas e, em 1951, o polonês radicado na Suíça, Stefan Kudelski, desenvolve o primeiro gravador portátil de som em fita magnética, chamado Nagra I. O nome “Nagra” vem do polonês e quer dizer “vai gravar”.

Em 1953, Kudelski desenvolveu o Nagra II, que usava pilhas para o funcionamento da parte eletrônica e um sistema de manivela e corda para alimentar a parte mecânica.

Em 1958 foi criado o Nagra III, um gravador com um sistema de velocidade estável, alimentado por pilhas, totalmente portátil. Inicialmente a sua produção foi direcionada para reportagens para rádio, mas, rapidamente, começou a ser utilizado para gravações para cinema.

Nagra III

Sei que hoje em dia é difícil compreender a sensação de conseguir fazer um filme com som direto fora de um estúdio e com um equipamento leve, principalmente um documentário, nos dias de câmeras e gravadores acessíveis e baratos como hoje, mas é preciso compreender que no fim da década de 1950 e começo de 1960 estas câmeras 16mm e esse gravador Nagra III revolucionaram o jeito de fazer cinema naquela época.

O Nagra III revolucionou a maneira de gravar som para cinema pela sua qualidade de gravação e portabilidade e, juntamente com o desenvolvimento de câmeras silenciosas e mais leves e de filmes que necessitavam de pouca luz, reuniram as condições para a realização do sonho de muitos realizadores e de muitos documentaristas: uma equipe pequena, com equipamento leve que pudesse se deslocar rapidamente e filmar, com som sincrônico, em qualquer lugar e com custos bem mais baixos.

Da década de 1990 até os nossos dias começou-se a usar a tecnologia digital para gravação de som para cinema e outros gravadores entraram no mercado.

Hoje em dia, com a popularização na produção de documentários das pequenas câmeras digitais que gravam imagem e som já sincronizados, muitos dos seus usuários nem imaginam todas as dificuldades técnicas que foram transpostas e as transformações estéticas ocorridas no documentário desde o início do cinema sonoro para se chegar ao que hoje parece tão corriqueiro: um equipamento portátil que possibilite a gravação de imagens e sons sincrônicos.

É então que, com tristeza, recebemos a notícia da morte de Stefan Kudelski, aos 84 anos, no dia 26 de janeiro de 2013, o homem que com a invenção de um gravador portátil revolucionou o cinema mundial.

 

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