Entrevista com o técnico de som direto Chris Newman
Aproveitando o workshop de som realizado pela RioMarket em parceria com o Festival de Cinema do Rio de Janeiro em setembro deste ano, o Artesãos do Som fez uma rápida entrevista com o renomado e premiado técnico de som direto Chris Newman, responsável pelo som direto de filmes como “O Poderoso Chefão”, “O Silêncio dos Inocentes”, “O Paciente Inglês”, dentre muitos outros. Vale destacar que Chris ganhou 3 Oscars de melhor som ao longo da carreira com os filmes “O Exorcista”, “Amadeus” e “O Paciente Inglês”.
Artesãos do Som: Como surgiu o interesse de você vir ministrar os workshops aqui no Brasil?
Chris Newman: Eu estava na Gotham Sound em Nova Iorque e fui apresentado à Zezé d’Alice. Tivemos uma agradável discussão sobre microfones… uma palavra leva a outra e ela acabou me perguntando se eu tinha interesse em dar um workshop no Festival do Rio de Janeiro. Eu respondi: “Me envie a passagem que eu irei!”. O resto é história…
A. S.: Como você analisa o trabalho criativo do técnico de som direto?
C. N.: O técnico de som direto, assim como a maioria das pessoas no set, está sempre resolvendo problemas… e sempre ajudando a contar a história da cena e/ou do filme. Um bom técnico de som direto deve trabalhar pensando da mesma forma que um diretor.
A. S.: Você dá aula e se relaciona com profissionais de diversas gerações. O que você destaca na diferença de postura entre os profissionais de antigamente e os atuais?
C. N.: Antigamente os profissionais pareciam ficar um pouco mais envolvidos com o filme, com o produto final. Hoje, os profissionais nem sempre têm a vantagem de bons cronogramas… ou de encarar o produto com qualquer tipo de sinceridade quanto a qualidade de som e imagem… muitas vezes também eles não conseguem fazer nada até a imagem ser liberada… Antes a relação com a produção era o mais importante, embora muitas vezes tensa… O negócio, a técnica e os alunos de alguma forma foram digitalizados!
A. S.: Você começou sua carreira fazendo som de documentários. Como foi a transição para filmes de ficção? Como essa experiência anterior influenciou no seu trabalho nos filmes de maior destaque?
C. N.: Eu consegui meu primeiro filme de destaque, “Medium Cool”, devido ao bom trabalho que fiz nos documentários. “Medium Cool” foi fundamentalmente um documentário teatral e que me levou a trabalhar no primeiro filme do diretor Hal Ashby, “The Landlord”. Na minha percepção as técnicas foram praticamente as mesmas, exceto pelo fato de poder ter o luxo de trabalhar com microfonistas. Em “The French Connection” eu usei muito da minha experiência anterior de técnicas de portabilidade quando havia espaço apenas para mim, um gravador e um microfone.
A. S.: Sabemos que na era do multi-track as possibilidades de trabalho com o som direto são quase ilimitadas. Isso pode ser algo incrível, mas também pode resultar em problemas que surgem a partir destas novas e “infinitas” possibilidades. Você poderia comentar algo sobre? Você deu muitos exemplos no workshop visando uma aproximação mais simples…
C. N.: O monitoramente do som com os multi-tracks pode ser muito difícil. Muitos técnicos de som direto devem apertar os botões de seleção de monitoração buscando um reconhecimento instantâneo do que está acontecendo em cada track, usando ambos os ouvidos. Outro grande problema de utilizar muitas pistas simultâneas é: o que acontece com o mix-down que vai para o editor de imagem, o estúdio e o diretor? E se o mix-down está bom, ele será utilizado! Se não estiver bom, eles podem não entender que está tudo ok… negando toda a ideia de pistas discretas. No momento, mesmo com mixers automatizados, eu não sei como resolver um problema para a maioria das pessoas… um problema que eu pareço ter inventado.
A. S.: Durante o workshop você mostrou uma cena de “O Paciente Inglês” que você fez utilizando apenas microfones sem fio (lapela), mas que para a maior parte da platéia pareceu ter sido gravada com microfones aéreos. Esse foi um grande golpe no dogma que diz que “os microfones aéreos sempre soam melhor”… Você poderia comentar isso? E também, já que estamos falando da diferença entre microfones aéreos e os lapelas, qual a sua ideia em relação à perspectiva do som na prática de som direto?
C. N.: Eu me recuso a estabelecer regras e ser tão doutrinário sobre quais microfones usar. Se os lapelas soam bem e são apropriados, então use-os. Se os aéreos soam bem, a mesma coisa. Eu geralmente não uso os dois juntos pois quero ser capaz de monitorar de uma forma descomplicada. Sidney Lumet sempre dizia para usar o que funcionar. No que diz respeito à perspectiva… contamos com a pós-produção de som para fazer a perspectiva, as tonalidades, o espaço, etc.
A.S.: Este ano você trouxe para o workshop um amigo de longa data, o mixador Tom Fleischman. Você poderia nos contar um pouco sobre a sua relação com ele? E também, qual é sua opinião sobre a relação entre técnico de som direto e profissionais da pós-produção de som?
C. N.: Eu conheço Tom desde seus 17 anos. Nesta época ele era o cara que fazia as transcrições das minhas fitas 1/4 de polegadas. Ele também mixou muitos dos filmes que eu trabalhei e sempre foi muito bom. Ele certamente me faz parecer bom… estamos na mesma página o tempo todo. Os técnicos de som direto devem conhecer os profissionais da pós, devem ir às sessões de mixagem do seu próprio trabalho e trabalhar de mãos dadas com todos esses profissionais… devem entender de edição de som… Se fizerem isso, certamente vão ter uma melhor compreensão do trabalho e farão trilhas melhores.
Em breve entrevista com o mixador Tom Fleischman.