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Jun 22 2011

Conforto acústico no MASP

 

No subsolo do MASP está sendo exibida, até 10 de julho de 2011, a mostra “6 bilhões de outros”, um projeto do francês Yann Arthus-Bertrand. Consiste basicamente de 11 horas de depoimentos selecionados a partir de 5.600 entrevistas colhidas em 78 países. As pessoas enquadradas em close olham diretamente para camera e discorrem em diferentes línguas e sotaques sobre temas como amor, família, felicidade, casa, pais, desafios, perdão, sonhos, clima, progresso, etc.

O que é digno de nota neste blog de som é, não só a qualidade técnica de gravação das vozes, mas principalmente a preocupação da exposição com o conforto acústico do visitante/ouvinte. Na maior parte das vezes que o espaço do museu deve reproduzir videos com som, o ouvinte enfrenta diversos obstáculos à fruição da obra, seja pela precariedade das gravações originais, seja em função de sistemas de reprodução de inadequados, mas principalmente pelo espaço acústico das salas de exposição, que costumam ter uma desagradável reverberação (normalmente causada por paredes vazias e paralelas) e pouco ou nenhum isolamento entre elas (poluição sonora).

Pois não é esse o quadro da citada exposição. A cenografia foi projetada pela empresa francesa de arquitetura Scene, um escritório especializado na concepção e criação de equipamentos culturais (salas de exibição e espetáculos).

O visitante se depara com oito yurts (um tipo de tenda inspirada nas habitações dos nômades mongóis), que nos fazem lembrar ocas dos Xavantes, arredondadas e circulares. Cada um deles é inteiramente revestida com espessas paredes de tecido (do tipo compensado de retalhos) e aberturas de entrada e saída possuem uma espécie de biombo em forma de L, que cria um obstáculo ao som do hall.

Dentro do Yurt, o visitante encontra um ambiente acolhedor e agradável para ver e ouvir com atenção. A captação de som direto varia, mas no geral é excelente. As vozes tem corpo, presença, brilho, sibilâncias. Os depoimentos são curtos (entre 15 e 30 segundos) e seguem initerrúptos, em sequência. A multiplicidade de dialetos pode ser escutada como música. Cada Yurt não é isolado acusticamente. De lá, ainda é possivel escutar uma massa de vozes (dos videos e das pessoas que circulam), mas, soam distantes, sem agudos, porque estão sendo filtradas pelo tratamento acústico. Não são mais ruídos interferentes, mas soam como ambientes que parecem emoldurar os depoimentos da tela e que ampliam a percepção e a possibilidade de reflexão: eu me ponho a ouvir esses depoimentos dos 6 bilhões de outros e são centenas de outros pulsando lá fora.

 

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