O Som de “Relatos Selvagens” – Parte III
Terceira parte da conversa sobre o som de “Relatos Selvagens” (Damian Szifrón, 2014) que ocorreu na CAPER 2014 (Câmara Argentina de Provedores e Fabricantes de Equipamentos de Radiodifusão).
Gustavo Santaolalla conta brevemente sua relação com “Relatos Selvagens”, num vídeo mandado para a conferência. Fala também sobre edição básica de música.
José Luis Díaz comenta que a música é um elemento importante em um filme. O responsável pela música de “Relatos Selvagens” foi Gustavo Santaolalla, que mora em Los Angeles. Por isso ele não esteve presente na conferência e mandou um vídeo falando do processo de trabalho no filme. O primeiro contato dele com o filme foi quando estava de férias com sua família em Mendonza – Argentina, quando a produtora conseguiu entrar em contato com ele. Meses depois, de volta a Argentina, Gustavo toma conhecimento das histórias de “Relatos Selvagens” a partir da indicação de um amigo. Depois de ler o livro com os contos de “Relatos Selvagens“, Gustavo pede para que seu amigo lhe apresente a Damian Szifrón, pois queria participar do filme. Finalmente, na Bélgica, os dois se conheceram pessoalmente. Na ocasião acontecia o festival de Ghent, festival de música e teatro, onde Gustavo Santaolalla participava como jurado.
A partir disto, comecei a compor algumas coisas em Los Angeles com direção de Damian. Depois de meses trabalhando sozinho, Damian foi a Los Angeles para que os dois pudessem trabalhar juntos nas músicas para o filme. O desafio foi encontrar o tom de cada história. Já que eram 6 histórias diferentes (apesar de terem um mesmo tema: a violência humana). O score foi pensado para ser música o tipo incidental. Mas cada história teria um tema. Assim como tivemos que compor um tema central, presente nos títulos, e que tem um papel importante no início do filme. Além de saber como incorporar as canções trazidas por Damian Szifrón.
Quando a música estava quase terminada, pediu para que o maestro Alejandro Terán gravasse o naipe de cordas, em Buenos Aires. Foi marcante este momento, porque foi a primeira vez que Gustavo Santaolalla gravou música para um filme em Buenos Aires (ele sempre trabalhava lá em Los Angeles). A tarefa de compor e interpretar era de Gustavo. E a de gravar e resolver as questões técnicas de engenharía de som foi de Aníbal Kerpel. E o trabalho em conjunto: a mixagem, onde o diretor também foi importante.
Para Gustavo, o mais bonito foi ver o trabalho pronto, onde se pode ver o trabalho coletivo. Fazer cinema é trabalhar em equipe. José Luis comenta que a maioria dos músicos costumam fazer a monitoração de suas músicas em stereo. Para este filme, houve um diálogo entre o diretor de som e os músicos para que a música chegasse na pós-produção em stems (grupos específicos: grupos de cordas, de metais, de percussão, etc.). Isso permite, durante a mixagem do filme, distribuir melhor a música numa sala de cinema.
Ainda falando sobre a música para cinema, José Luis mostra um exemplo da música composta por Gustavo e Aníbal onde há um golpe percussivo que acompanha o final da ação (que é muito comum de acontecer quando se compõe música para cinema é usar a técnica mickey mousing). Durante a mixagem final do filme, optaram por tirar este golpe da música porque, o golpe da música estava fora de sincronia, além de haver uma “briga de forças” entre o golpe da música e o golpe dos efeitos de som. Neste caso, a solução foi tirar o golpe da música e deixar apenas os efeitos. Silenciar a música acabou dando mais impacto a cena da queda do carro.
Para José Luis, a polifonia é bonita e ajuda a compor a trilha sonora dos filmes. Que o som do filme não seja de todo musical, nem só de ruídos. O interessante é haver um equilíbrio entre músicos e desenhadores de som. Durante a mixagem, o rufar dos tímpanos, em alguns momentos, baixaram de volume para que o ruído do motor se sobressaísse. E no último impacto, pouco antes do carro cair, é possível escutar o som do motor em pitch down, para que a queda fosse sentido como descenso. Além de todos os detalhes de ruídos que vem dos carros. Se a música estivesse constante, o efeito não teria sido o mesmo. Se só houvessem os ruídos, talvez faltasse um pouco de drama. A dinâmica é importante para se construir uma boa trilha sonora.
Continua…